Vamo São Paulo!!!

Vamo São Paulo!!!

Morumbi

                   A construção do Morumbi





 
 

 


Introdução



No início dos anos 40, o São Paulo Futebol Clube havia comprado, por 740 mil cruzeiros, a praça de esportes do Canindé, tornando-a sua sede. Todavia, nunca fora realmente seu estádio, pois nela estádio não existia. Da mesma forma, o antigo campo da Rua da Moóca, o Estádio Antônio Alonso, usado anteriormente, também não era seu, e sim da Companhia Antárctica Paulista.

Nessa década, o São Paulo reinou soberano, tanto no futebol quanto em outros esportes. E tudo isso tinha um preço. O sucesso elevou os custos do clube, em uma época onde a fonte de receitas se resumia a um único elemento: bilheteira. Então, como sobreviver, com um escrete poderoso - sempre campeão -, sem um estádio próprio?

Antes que as dívidas se tornassem descomunais, como outrora já acontecera... Antes que o clube se ressumisse a 11 camisas e uma bandeira, o São Paulo agiu. Ou melhor, inicialmente um único "sampaulino" vislumbrou a solução, ainda em 1949:
Foi o sampaulino Luís Campos Aranha quem, pegando no braço do saudoso Cícero Pompeu de Toledo, disse que conhecia um homem capaz de colocar a caixa em ordem. Surpreso e incrédulo, Cícero quis saber quem era.
Rev. Grandes Clubes Brasileiros: São Paulo, 1971.
E logo tudo foi tomando forma. A resolução era óbvia, ainda que longe de ser simples: A construção de um estádio. De uma autêntica casa Tricolor, que abrigasse os corações de seus torcedores. E Aranha sabia como trilhar esse sonho...
A resposta veio de pronto:

- Laudo Natel.
Não sei se Cícero Pompeu teria se espantado com a resposta, mas antes que alguém, desavisado, surpreenda-se agora, eu explico quem era Laudo Natel:

Nascido em São Manuel, SP (14 de setembro de 1920), morou durante a infância em Mirassol, SP. Formou-se em economia e administração de empresas e, à época da epifania de Luís Campos Aranha, era diretor financeiro do Bradesco, banco em que trabalhou sob a tutela de Amador Aguiar, fundador do mesmo.

(Como se pode notar, não era Governador do Estado, ainda - somente o administrou efetivamente após a conclusão do Estádio, de 1971 à 1975, além de um breve período de dez meses em 1966/67, quando suplente do antigo governador e já com o Morumbi quase completo).

Então, guiados por Luís Aranha, rumaram Cícero Pompeu de Toledo e Marcel Klaczko para uma entrevista com o diretor do Banco Brasileiro de Descontos. A príncipio, Laudo gostou da proposta. Estudou a condição financeira do clube e percebeu que era necessária uma forte intervenção para que fosse possível iniciar tamanha empreitada:

A venda do Canindé.

O clube ficaria despojado de seu maior, e único, bem que possuía naqueles tempos.
Era preciso muita coragem para uma solução tão radical. E Laudo arrematou para Cícero:

- Não podemos ser um clube de onze camisas, uma bandeira e muitas dívidas nos assustando.
No fim, Laudo Natel, junto de seu amigo e fervosoro torcedor "sampaulino", Manoel Raymundo Paes de Almeida, conseguiu convencer Cícero Pompeu que, somente saneando o caixa do clube o sonho poderia se tornar realidade. Em entrevista ao site SP.Net Laudo se recorda:
Nós conseguimos esse patrimônio do São Paulo porque eu adotei uma linha dura: não misturar a obra do Estádio com o futebol, porque senão, tudo o que seria destinado para o Estádio, seria absorvido pelo futebol. Nós vendemos o Canindé, mas o dinheiro só serviu para pagar as dívidas do São Paulo. Tanto é que o vendemos para um conselheiro do São Paulo, o Wadih Sadi, que depois foi diretor na minha gestão. A condição dada foi que ele deixasse o São Paulo treinar por lá até o clube ter um outro estádio.
1. Terreno



Os rivais estavam certos: construído no meio do nada...

Mas, estou me adiantando aos fatos. O Canindé somente fora vendido ao conselheiro Sadi, por Cr$ 12.000.000,00, em 1955. Estamos em 1950, e nesse momento, a diretoria do São Paulo ouvia um "não" do então prefeito da cidade de São Paulo, Armando de Arruda Pereira, sobre a possibilidade da construção do novo estádio em um terreno em que hoje se encontra o Parque do Ibirapuera. Em verdade, o fervoroso interlocutor que influenciou a decisão de Arruda Pereira foi o futuro prefeito Jânio Quadros, então vereador.

A busca por um terreno compatível com o grandioso plano prosseguiu até 1951, quando Luís Aranha, Cícero Pompeu de Toledo e Breno Caramuru passaram a apostar todas as suas fichas no chão de barro vermelho de um bairro que estava por nascer...
Inspirado na Lei n° 58, que regulamentava loteamentos, Luís Aranha conseguiu uma entrevista com o presidente da Imobiliária e Construtora Aricanduva, pleiteando que a área a ser destinada para parques e jardins fosse destinada ao São. Paulo FC.
Rev. Grandes Clubes Brasileiros: São Paulo, 1971.

Assessorados pelo secretário jurídico da Prefeitura, Nelson Marcondes do Amaral, os são-paulinos, em 04 de agosto de 1952, foram ter-se em reunião com o prefeito Arruda Pereira, onde se acertaria a doação de um terreno de quase 100 mil metros quadrados da Imobiliária Aricanduva no Morumbi para o São Paulo Futebol Clube.
Ênfase: Da Imobiliária Aricanduva para o São Paulo. Como se vê no documento oficial: a prefeitura foi somente interveniente, ou seja, mediadora e avalizadora do negócio. E isso, graças a uma cessão de parte do terreno do Canindé à prefeitura para a construção de uma das estradas Marginais do Tietê - inaugurada pouco tempo depois, 1957.

Inicialmente, houve um curioso opositor ao projeto: O engenheiro Gomes Cardim. Todavia, este foi logo contagiado pela febre do Estádio, e acabou colaborando de maneira exaustiva ao seu desenvolvimento. De opositor, passou a ser membro ativo da Comissão Pró-Estádio.

Duas semanas depois de acertada a transferência de posse, em 15 de agosto de 1952, o Monsenhor Francisco Bastos abençoou o solo sagrado do Morumbi, lançando sua pedra fundamental. Aos poucos, o clube ia adquirindo outras partes do terreno.

A Revista Grandes Clubes de 1971 diz 30 mil metros quadrados comprados pelo próprio clube, outros 30 mil também doados pela Aricanduva. Em sua entrevista, Natel diz, de cor, que os números são 25 mil, para ambas as partes. Toda forma, enfim resultando 154/158 mil metros quadrados, o São Paulo Futebol Clube possuia o terreno necessário para a construção do Maior Estádio Particular do Mundo.

Nesse mesmo ano, outro importante fato aconteceu na história do São Paulo:
Em uma ocasião fui convidado a dirigir o departamento financeiro do São Paulo, que vivia uma fase muito difícil, sempre endividado. Ele já era um clube grande, de nome, mas coberto de dívidas. Nessa época, eu era diretor de banco, então fui levado para o clube por amigos comuns que participavam da vida do São Paulo. Eu ingressei no clube em 1952 com a condição de ficar apenas um ano. Aí, eu fui me aperfeiçoando e acabei permanecendo por mais tempo. Nessa época, o presidente era o Cícero Pompeu de Toledo. Logo depois, veio a doença que o vitimou. Nessas condições, eu não poderia abandonar o clube, acabei ficando seis anos como diretor de finanças e, depois, fui eleito presidente em sete mandatos.
SPNet, 2004.
Palavras de Laudo Natel. Com essa nova diretoria iniciou-se uma nova era para o SPFC. Um exemplo muito sutil, mas que caracteriza bem esse momento é que, o balanço fiscal e financeiro do clube, publicado todos os anos, surgiu com Laudo Natel e sua "linha dura", em 1952, antes mesmo da existência de qualquer obrigação legislativa.

Seriedade e Organização.

2. Planejamento


Organização ficou por conta da Comissão Pró-Estádio, criada também em 1952. Estava assim constituída:

Presidente: Cícero Pompeu de Toledo;
Vice-presidente: Dr. Piragibe Nogueira;
Secretário: Dr. Luís Cássio dos Santos Werneck;
Tesoureiro: Amador Aguiar (sim, o fundador do Bradesco!);
Membros: Altino de Castro Lima. Dr. Carlos Alberto Gomes Cardim, José Fernando de Macedo Soares Junior, Luís Campos Aranha, Manoel Raimundo Paes de Almeida, Dr. Osvaldo Artur Brakte, Roberto Gomes Pedroza, Dr. Roberto Barros Lima, Marco Gasparian, Dr. Paulo Machado de Carvalho e Dr. Pedra França Filho.

O projeto arquitetônico escolhido para o, então, Estádio Nove de Julho - Sim, o Morumbi teria esse nome em homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932 - era de João Batista Vilanova Artigas, um dos mestres da área (principal nome da escola denominada "Movimento Paulista" de arquitetura e fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU), em detrimento da proposta soviética da construtora Antonov & Solnnerkevic - de cunho arrojado e que previa, inclusive, uma cobertura transparente e removível.

O crucial para a escolha do projeto de Artigas foi a capacidade estipulada: 120 mil pessoas. Posteriormente, Artigas, então muito ocupado com outros projetos e afazeres, doou os direitos de seu projeto ao São Paulo, o que permitiu ao clube proceder certas alterações sobre a concepção original (dentre outras mudanças: unir o terceiro e quarto piso de arquibancadas em um só, aumentando em cerca de 30% a capacidade total do estádio, agora então de 150 mil pessoas).

Uma reviravolta dramática ocorreu quando, em 1957, Cícero Pompeu de Toledo se afastou do cargo de presidente da Comissão Pró-Estádio e do próprio São Paulo por motivos de saúde, e falecendo em seguida. A comoção foi tamanha, que nem poderia ser diferente, o Estádio do Morumbi só poderia receber um nome oficial: Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Para não deixar o sonho do saudoso Cícero morrer em vão, foi nomeada uma Segunda Comissão Pró-Estádio:

Presidente: Laudo Natel;
Vices-Presidentes: Dr. Piragibe Nogueira; Monsenhor Francisco Bastos e Dr. Mário Tavares Filho;
Demais membros: Altino de Castro Lima, Amador Aguiar, Dr. Breno Caramuru Teixeira, Dr. Caetano Estelita Pernet, Dr. Carlos Alberto Gomes Cardim, Dr. Frederico A. G. Menzen, José Fernando de Macedo Soares Junior, general José Porfirio da Paz, Dr. Jovelino Bahia, Júlio Brisola, Luís Campos Aranha, Dr. Manuel José de Carvalho, Manoel Raymundo Paes de Almeida, Marcel Klaczko, Dr. Paulo Machado de Carvalho, Dr. Paulo Planet Buarque, Dr. Pedro Franca Pinto, Dr. Roberto Barros Lima e outros.
Todos estes homens passaram a sonhar. E todos diziam: já que é um sonho, que seja grande.
Rev. Grandes Clubes Brasileiros: São Paulo, 1971.
Mais que devaneios, esses homens tornaram o Morumbi real - construindo-o lentamente, com suas e suas próprias mãos. Como veremos a seguir.

3. Construção



Primeiros Alicerces
Foi com este espírito, esta coragem, que os homens do São Paulo saíram de um monte de dívidas para este colosso do Morumbi, que foi erguido com incríveis dificuldades, muitas delas verdadeiramente inimagináveis, pois ali não entrou nenhum tijolo, cimento ou ferro, que tivesse sido fornecido por qualquer poder público. Foi um gigante, cuja construção exigiu sacrifícios enormes.
Rev. Grandes Clubes Brasileiros: São Paulo, 1971.



Como pôde esse titã ser erguido? É o que se perguntam não somente os torcedores rivais, mas qualquer leigo na história e na tradição são-paulina. Natural que fiquem pasmos e atônitos... Mas vamos aqui, primeiramente, enumerar algos fatos e dados que ajudam a explicar a complexidade e grandeza desse monumento:

1. Contenção de despesas e "fila de títulos" por 13 anos.
2. Parcerias e permutas comerciais com grandes empresas.
3. Empreendedorismo e campanhas publicitárias.
4. Empréstimos financeiros.
5. Venda de Cadeiras Cativas.
6. Venda de Títulos Patrimôniais.
7. Carnê Paulistão.
8. Doações.
9. Aluguéis de jogos de outros clubes.
10. Promoção de torneio com clubes do exterior.




1). Pois é, o principal, e como Natel costuma dizer, foi que o clube, sob sua mão, soube dissociar o futebol do estádio. O que se arrecadava para a construção do estádio, ficava no estádio. E como a construção exigia muito, pouco sobrava a se arrecadar para o futebol. Por 13 anos o São Paulo sofreu com equipes medianas. Ainda assim, com todo o motivo do mundo, sua fila foi a menor da história, se comparada aos clubes rivais.

2). Visando a iluminação do estádio, por exemplo, Henri Aidar e Antônio Leme Nunes Galvão recorreram à Philips e ofereceram um acordo: A empresa holandesa cederia os refletores por um aluguel de 10 anos e, em troca, colocariam painéis de publicidade no estádio.

Outro exemplo foi um acerto com a Companhia Antártica Paulista, onde o clube recebeu CR$ 5 milhões pela concessão do direito de exclusividade de comercialização de produtos no estádio, a partir de sua inauguração, pelo prazo de 10 anos e com opção de mais cinco.

3). O empreendorismo e comprometimento com "a causa" dos dirigentes do São Paulo era tão forte e tão inovador que as transações comerciais com esses investidores privados eram até inusitadas. Como quando Laudo Natel se transformou em garoto-propaganda, indo à televisão fazer publicidade de uma indústria de acessórios de construção civil que prometera ceder 400 mil parafusos para fixação de assentos, gratuitamente.

Laudo Natel também criou a Campanha do Cimento, a qual Nunes Galvão expandiu até mesmo para a cidade de Ribeirão Preto, sua cidade natal e sede de sua construtura, a Civilsan - esta que fez toda a base do Estádio. Lançou ainda, Natel, diversas campanhas promocionais, como um LP
chamado Bola no Barbante, que contava com a participação de Hebe Camargo (vedete são-paulina), cujos ganhos foram revertidos ao estádio.4). Obviamente o clube teve que recorrer a instituições financeiras em busca de capital volátil (ou seja, grana viva) para manter essa obra. Tomaram, por exemplo, um empréstimo de CR$ 5 milhões com a Caixa Econômica Estadual.

Foi importante também a participação do Bradesco, que emitia títulos em prol do São Paulo às empresas negociantes, que lá depois descontavam o valor. Contudo, como Natel diz:
5). Jose Poy, ídolo e goleiro do São Paulo, vendia pessoalmente futuras cadeiras cativas - de porta em porta. Mas somente isso não bastava. Inicialmente planejava-se vender 6 mil cadeiras cativas, de modo temporário - um período de 20 anos. Porém, o ceticismo da época aliada a zombaria rival de "se construir um estádio no meio do mato" forçou o São Paulo, para se alavancar as vendas, a tornar a posse dessas cadeiras definitiva.

Então, das 12 mil postas a venda, somente Poy vendera 8 mil.

Hoje, não existem cadeiras cativas sem dono. Aliás, cogita-se a (re)compra dessas por parte do SPFC para a Copa do Mundo de 2014. Mas isso é outro assunto...
6). Também fez parte dos planos de arrecadação de fundos a venda de títulos patrimôniais e sociais. "Campanha que, a exemplo das cadeiras cativas, foi coroada em pleno êxito. Basta dizer que nessa iniciativa, logo no príncipio, foram vendidos cerca de 7.500 (aproximadamente). O preço estimulado no início foi de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) com descontos de 20% para proprietários de cadeira cativa e de 25% para associados".

Confira o link acima para maiores detalhes.

7). Conrado Giacomini, em seu Dentre os Grandes, És o Primeiro, define bem o que foi o Carnê Paulistão, criado ao fim dos anos 60:
Era uma espécie de bingo, criado e idealizado pelo apresentador são-paulino Hélio Setti, que sorteava prêmios a granel pela televisão, ao vivo, pela TV Excelsior, às 21:00h, no intervalo das novelas. A pessoa que estivesse com o pagamento do carnê em dia, concorria a prêmios. Ao remitir a dívida ao carnê, o comprador poderia escolher um prêmio entre os anunciados. Enfim, era mais ou menos o que fazia Sílvio Santos com seu Baú da Felicidade.

O Carnê Paulistão foi um estrondoso sucesso, tornou-se uma autêntica febre, recordes de vendagem eram quebrados. Pouco tempo depois, outros clubes imitaram a iniciativa e também lançaram os seus carnês. Todos esses sorteios, sempre é bom dizer, precisavam de autorização do Ministério da Fazenda. Porém, o excessivo número de carnês de times diferentes confundiu o público. Desse modo, só o nosso Carnê Paulistão deu certo.
8). Doações de são-paulinos ilustres foram comuns à construção do Morumbi. O presidente e fundador do Banco Bradesco, Amador Aguiar, costumeiramente desenbolsava quantias de caráter mais urgente, a fim de cobrir essas despesas. Retrato da fidelidade e confiança no São Paulo Futebol Clube. Quase uma tradição, iniciada desde os tempos de Porfírio da Paz - que todos sabem, vendeu tudo o que tinha, certa vez, para ajudar o SPFC.

Outro contribuinte que merece muito crédito foi o já comentado (e falecido) Antônio Leme Nunes Galvão, futuro presidente do São Paulo, e então dono da Construtora Civilsan, da empresa Bardahl e sócio-proprietário do BCN (Banco de Crédito Nacional).

9). Desde 1960, quando o Morumbi foi inaugurado parcialmente - aliás, essa inauguração parcial foi aprovada justamente para se angariar mais recursos -, o São Paulo passou a receber taxas por aluguel do campo a outros clubes. Sim, desde 1960 o Tricolor possui fregueses fiéis... Questão de visão e projeção do futuro.

10). Em 1957 foi promovida pelo São Paulo Futebol Clube a I Copa São Paulo, mais conhecida como I Torneio Internacional do Morumbi, ou somente Taça Morumbi. O estádio, como sabem, ainda não estava pronto, desta forma a competição foi realizada no Pacaembu e Maracanã, com 4 clubes do exterior: Lazio, Belenenses, Sevilla e Dínamo Zagreb, além de Flamengo, Vasco da Gama, Corinthians e o próprio São Paulo.

As rendas também foram convertidas em ferro e cimento. Talvez por isso, quando os estrangeiros foram eliminados da competição (todos os brasileiros se classificaram para o quadrangular final), os rivais nacionais abandonaram o campeonato. Não interessava a eles, ao visto, jogar entre si o torneio amistoso somente para proporcionar fundos ao São Paulo.

E isso são somente alguns fatos significativos pinçados de todo o gerenciamento de Laudo Natel e companheiros durante a construção do Estádio Cícero Pompeu de Toledo. O mote de seu patrono sintetiza ainda mais o que foi tudo isso:
"Fazer o difícil na hora e o impossível um pouco depois".


Foi uma ajuda normal de uma instituição financeira ao seu cliente. Eu era diretor das duas instituições na época, então, evidentemente, eu usava o Bradesco, um grande colaborador do São Paulo. Mas sempre dentro das condições normais, pois o Banco não era de minha propriedade, eu era apenas diretor.
Vale ressaltar que o dono e fundador do Bradesco também participava ativamente da construção do estádio. Verá com mais detalhes abaixo.



Ainda que tarde, ainda que seja impossível: que se faça. E foi feito.

E com números impressionantes: para o projeto foram necessárias 370 pranchas de papel vegetal; cinco meses foram consumidos nas terraplanagens e escavações, com o movimento de 340 mil metros cúbicos de terra; um córrego foi canalizado; o volume de concreto utilizado é equivalente a construção de 83 edifícios de dez andares; os 280 mil sacos de cimento usados, se colocados lado a lado, cobririam a distância de São Paulo ao Rio de Janeiro; 50 mil toneladas de ferro, que daria para circundar a Terra duas vezes e meia.

E, quando já se era possível contemplar o porte do Estádio, com sua conclusão em vias de se realizar, a prefeitura de São Paulo propôs o imponderável, o inaceitável, ao clube: A troca do Estádio do Morumbi pelo Estádio do Pacaembu.

É, a mesma prefeitura que antes impôs empecilhos ao Estádio, agora o desejava...

Não! Natel, como só ele poderia responder, pôs fim a indecorosa proposta:

"O sonho do são-paulino não cabe no estádio do Pacaembu".

Afinal, o sonho do são-paulino é agora, graças a essa história e a esses homens, tangível, concreto. Da mesma forma, de valor incauculável. Afinal, os esforços não foram medidos...




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Fontes e Material de Apoio:
Conrado Giacomini. Dentre os Grandes, És o Primeiro
Conrado Giacomini. Texto para a Estação Tricolor
Agnelo di Lorenzo. Revistas do São Paulo FC
Entrevista de Laudo Natel à SPNet, 2004
Revista Grandes Clubes Brasileiros: São Paulo, 1971